Manutenção da Selic em 15% evidencia prudência diante de incertezas externas e inflação elevada
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 15% durante a reunião realizada nesta quarta-feira (30), sinalizando uma postura de cautela diante do cenário externo conturbado, especialmente após a imposição de tarifas de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.

Apesar de manter o balanço de riscos semelhante ao da decisão anterior, quando houve o aumento da Selic para o patamar atual, o Copom chamou a atenção para um ambiente internacional mais desafiador. A autoridade monetária também deixou aberta a possibilidade de uma nova alta nos juros, caso fatores externos comecem a pressionar a inflação doméstica de forma mais significativa.
Durante a Super Quarta do InfoMoney, o economista da XP, Rodolfo Margato, destacou que o comunicado do Copom manteve o tom de preocupação com o crescimento moderado da atividade econômica, embora o mercado de trabalho siga aquecido. Segundo ele, o texto mencionou as tarifas dos EUA, mas de forma superficial, o que gera incertezas sobre os impactos efetivos dessa medida sobre a inflação brasileira.
Cenário internacional exige atenção
Leonardo Costa, economista do ASA Investments, destacou que o principal ponto de atenção nesta decisão do Copom foi justamente o risco associado às novas tarifas dos EUA, o que contribui para a manutenção de uma postura mais cautelosa por parte do Banco Central.
Para Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital, o comitê agiu de forma prudente ao comunicar que ainda está monitorando os desdobramentos das medidas americanas sobre o comércio bilateral.
Inflação e mercado de trabalho seguem como desafios
Raphael Vieira, co-head de Investimentos da Arton Advisors, avalia que a decisão também reflete a preocupação com o mercado de trabalho aquecido e com a inflação de serviços ainda fora do controle. Ele lembra que a autoridade monetária voltou a citar a questão fiscal como um fator de risco, cobrando mais responsabilidade do governo na condução das contas públicas.
Fabricio Echeverria, CEO da Oby Capital, ressalta que o Copom estendeu o horizonte de sua política monetária até o primeiro trimestre de 2027, projetando um IPCA de 3,4% nesse período no cenário de referência.
Perspectivas para os próximos meses
De acordo com Marcelo Bolzan, a expectativa para as próximas reuniões do Copom é de manutenção da Selic no mesmo nível atual. No entanto, o comitê não descartou a possibilidade de retomar o ciclo de alta dos juros, caso surjam pressões inflacionárias adicionais. Para ele, a tendência é de desaceleração da economia, o que pode abrir espaço para cortes na taxa de juros a partir do início do próximo ano.
Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, compartilha a visão de que o ciclo de cortes poderá ter início no final deste ano ou, no mais tardar, em janeiro de 2026.
Na visão de Leonardo Costa, do ASA, a queda dos juros pode começar já em dezembro, com um corte inicial de 0,25 ponto percentual.
Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, aponta que os sinais de desaceleração da economia e a moderação da inflação fortalecem a expectativa de início do ciclo de cortes ainda em 2025. No entanto, ela ressalta que políticas fiscais expansionistas podem atrasar esse processo, mantendo os juros elevados por mais tempo para conter riscos inflacionários.
Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, acredita que a política de juros altos pode ser mantida até o final do primeiro trimestre de 2026, como medida preventiva.
Indústria pede equilíbrio
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) reforça a necessidade de conciliar o controle da inflação com o estímulo ao crescimento da economia real. O presidente da entidade, Flávio Roscoe, defende uma política monetária mais equilibrada, que leve em conta os sinais de desaceleração sem comprometer a competitividade da indústria nacional.